'Amour' - a derradeira história de amor

Amor (2012) não é um filme fácil, tal como o amor, a vida ou a morte. Tira de nós a ingenuidade que faltava sobre o que achamos que é o amor (esse sentimento tão falado mas nem sempre verdadeiramente sentido) e os nossos limites em relação a ele.

Michael Haneke invade a intimidade de um casal octogenário, abalado pela degeneração dela e o sentimento de impotência dele, que quase não consegue ser mais do que nós, sendo um mero telespectador do desabamento da figura feminina da sua mulher e das suas próprias capacidades. Também nós somos invasores de uma verdade dolorosa e arrepiante, sofregamente real.

Em Amor, não há beijos românticos ao som de uma música épica ou cenas sexuais. Nada disso é preciso para contar uma história de amor intrinsecamente forte e envolvente. Também não há muitas palavras, pois quando estas faltam, resta o sentimento, o último a ir embora.

Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva em Amor. Foto: Out Now.

Para viver este casal, que se ama tanto mas que a vida impossibilita de se amar em toda a sua plenitude, foram escolhidos dois actores ímpares. Emmanuelle Riva está, aliás, merecidamente nomeada para o Oscar de Melhor Actriz, e não seria de estranhar que vencesse, tal é a sua transfiguração e transformação física e emocional ao longo do filme. A actriz consegue transmitir ao espectador a intransmissível dor da personagem, que se perde de si mesma, tomando consciência dessa ausência e preferindo não a viver.

O silêncio é uma das tónicas do filme, relatado pelo arrastamento dos dias, tal como a intemporalidade da música clássica ou a vivência de momentos comuns e pouco transcendentes. A câmara "voyeurista" de Haneke mostra-nos tudo isto, deixa-nos a pensar no que falta e perturba-nos com a sua realidade amarga.

Amor é, sem qualquer dúvida, uma obra sobre o amor, mas, mais do que isso, sobre quando o amor é a única coisa segura que resta.